Ao reponte do sol que descamba,
o dia se aprochega do arremate.
Pelos campos e nos matos da querência,
o revoar da bicharada voltando aos ninhos...
É hora de recolhimento.
No rancho que há no interior de mim mesmo,
eu, gaúcho de fé, me arrincono e medito.
Despindo o poncho da vaidade e do orgulho,
tiro o chapéu, apago o pito e me achego
pra uma prosa com o patrão maior.
Na sua presença, meu sangue quente de farrapo
se faz manso caudal.
Entrego-lhe minha alma afoita de alcançar lonjuras
e abrir cancha em busca do destino.
Renuncio à minha xucra rebeldia e me faço
doce de boca e macio de tranco, pra dizer:
Gracias, patrão, por tudo que me deste!
Por esta querência, Senhor,
que meus ancestrais regaram com seu sangue
e que aprendi a amar desde piá...
Pelos meus parceiros desta ronda da vida,
sempre de prontidão para me amadrinharem
na campereada mais custosa ou para matearem
comigo na hora do sossego.
Reparte com eles, patrão, esta fé que me deste
e este orgulho pela minha querência.
Ajuda, patrão, a manter acesa esta chama.
Concede sempre ao gaúcho a força no braço
e o tino pra saber o que é correto.
Dá-nos consciência para preservar a nossa cultura
livre da invasão dos modismos.
Conserva a essência e a beleza da nossa tradição. (...)
(Odilon Ramos)
Nenhum comentário:
Postar um comentário